sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Naufrágio

Aproximamo-nos, de cara alegre e a passos largos, do abismo. Lá fora, os bancos já não nos recebem de portas abertas, os mercados internacionais já não nos dão cavaco e os santos nem a descer, a pique, nos ajudam. Portugal já não é amado no estrangeiro? Por ser uma república deixou de ser nobre? A estrela deixou de ser linda e deixou de dar sorte? Mas, faça-se justiça, à costa, com névoa, só chegam detritos de vários naufrágios. Espalham-se, pelo areal, caixotes com pintos, loureiros e cartuchos de pólvora seca. Por entre rios, o país carrega uma cruz. Em casa, pia ou não, ouvimos num qualquer jornal de sexta que, no sul, uma moura foi “despachada” com uma vara e que, no norte, uma charrua foi para a sucata, para alegria dos sucateiros do regime, por uma razão oculta. E há quem chame a tudo isto, um figo. O jardim à beira mar plantado é agora um terreno salgado e barroso com rosas murchas e cheias de espinhos. Alguns fizeram carreira a alertar e, por isso, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Definitivamente já não conseguimos tirar nenhum coelho da cartola, a não ser que…vá de mota. E todo este enredo é presenciado por uma oliveira centenária, que se fosse pessoa podia fazer um filme, talvez a preto e branco, porque tudo isto não merece ter cor.

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